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Em 1937, Macdonald Critchley, um excepcional observador de síndromes neurológicas raras, descreveu onze pacientes seus que sofriam ataques epilépticos induzidos por música. Além disso, fez um levantamento de casos descritos por outros médicos. Deu ao seu artigo pioneiro o título de “ Epilepsia musicogênica”, embora afirmasse preferir o termo”musicolepsia’.
Alguns dos pacientes de Critchley eram musicais, outros, não...
O caso mais impressionante foi o de um eminente crítico musical do século XIX, Nikonov, que sofreu seu primeiro ataque durante a apresentação da ópera o Profeta de Meyerbeer. Dali por diante ele foi se tornando cada vez mais sensível à música, até que por fim quase toda música, por suave que fosse, causava-lhe convulsões. (“A mais nociva de todas”, salientou Critchley, “era o chamado fundo ‘musical’ de Wagner, que apresentava uma incessante e inescapável procissão sonora,”) Nikonov, profundo conhecedor e apaixonado por música, acabou sendo forçado a deixar sua profissão e a evitar qualquer contato com música. Quando ouvia uma banda de metais passar na rua, tapava os ouvidos e corria para a porta ou dobrava a esquina mais próxima. Adquiriu verdadeira fobia, um horror por música, e o descreveu em um ensaio intitulado “ Medo de Música’.
**texto extraído do livro ALUCINAÇÕES MUSICAIS, de Oliver Sacks, relatos sobre a música e o cérebro.
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