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Trecho de crônica publicada em 2 de agosto de 2008,
assinada por Dalton Machado Rodrigues,
alter-ego do Professor Thadeu:
O ROBERTO PRADO NÃO É BEM CERTO
OU O MUNDO É QUE ESTÁ LOUCO?
O que eu queria mesmo lhes dizer, meus realistíssimos leitores, é que sou um assombrado com a vida e seus desdobramentos. Ontem, às 4h53, o telefone tocou. Minha doce esposa Dona Zenóbia fez um muxoxo e virou-se. Rápido como um gato saltei da cama e atendi:
- Fala, Roberto!
Do outro lado da linha, o silêncio pôs minha alma em pânico. Insisti:
- É você, Beco?
Nenhum som para acalmar minhas atávicas ansiedades. Com a voz trêmula e já sofrendo os primeiros arrancos triunfais de minhas inquietas entranhas, faço a última tentativa:
- Desembucha, animal!
- O silêncio encoraja o torturador, nunca o torturado. Certo, Dalton?
Sem entender absolutamente nada, me predisponho a continuar a conversa:
- Certíssimo, Beco.
- Como o homem arruína mais as coisas com as palavras do que com o silêncio, não seria melhor refletir muito antes de abrir a boca?
Humilhado pela clarividência divina de tal afirmação, me quedo em silêncio. E ele descasca:
- O silêncio é um dos argumentos mais difíceis de se rebater. Prefiro que você diga alguma coisa.
Essa insistência faz com que um frio fino fio de suor provoque um tremor em minha espinha. No peito, o coração sobressaltado quer vazar pela boca, mas agüento o tranco:
- Beco, o silêncio é o momento em que as idéias se adaptam umas às outras.
- Eu lavo as minhas mãos em relação àqueles que imaginam que falar seja conhecimento, que silêncio seja ignorância e que indecisão seja arte, Dalton. De qualquer forma, feliz aniversário.
Minha alma, num arrebatamento quase divino, não se contém:
- Obrigado, Beco! Mas o silêncio é apenas... O desgracido desliga e não me diz nem bom-dia. Enxugo o suor abundante da testa e de minhas axilas. E, aos poucos, vou voltando ao normal. Saio à varanda e o dia vai se assanhando, mas a escuridão ainda é densa e apenas os pássaros acordando vão se espreguiçando pelas sombras dos galhos. Vou para o cozinha e preparo o café de sempre. Encho minha xícara de meia-tigela, levo uma menor para Dona Zenóbia e, felizes, sorvemos até a última gota. Súbito, ela me abraça docemente:
- Feliz aniversário, meu amor querido! E longamente me beija. Um beijo que nem em minha fálica juventude eu havia experimentado. Sabem de uma coisa, meus amorosíssimos leitores?, as palavras de amor só deveriam dizer o que dizem duas bocas juntas assim. Mas isso não tem importância.
OU O MUNDO É QUE ESTÁ LOUCO?
O que eu queria mesmo lhes dizer, meus realistíssimos leitores, é que sou um assombrado com a vida e seus desdobramentos. Ontem, às 4h53, o telefone tocou. Minha doce esposa Dona Zenóbia fez um muxoxo e virou-se. Rápido como um gato saltei da cama e atendi:
- Fala, Roberto!
Do outro lado da linha, o silêncio pôs minha alma em pânico. Insisti:
- É você, Beco?
Nenhum som para acalmar minhas atávicas ansiedades. Com a voz trêmula e já sofrendo os primeiros arrancos triunfais de minhas inquietas entranhas, faço a última tentativa:
- Desembucha, animal!
- O silêncio encoraja o torturador, nunca o torturado. Certo, Dalton?
Sem entender absolutamente nada, me predisponho a continuar a conversa:
- Certíssimo, Beco.
- Como o homem arruína mais as coisas com as palavras do que com o silêncio, não seria melhor refletir muito antes de abrir a boca?
Humilhado pela clarividência divina de tal afirmação, me quedo em silêncio. E ele descasca:
- O silêncio é um dos argumentos mais difíceis de se rebater. Prefiro que você diga alguma coisa.
Essa insistência faz com que um frio fino fio de suor provoque um tremor em minha espinha. No peito, o coração sobressaltado quer vazar pela boca, mas agüento o tranco:
- Beco, o silêncio é o momento em que as idéias se adaptam umas às outras.
- Eu lavo as minhas mãos em relação àqueles que imaginam que falar seja conhecimento, que silêncio seja ignorância e que indecisão seja arte, Dalton. De qualquer forma, feliz aniversário.
Minha alma, num arrebatamento quase divino, não se contém:
- Obrigado, Beco! Mas o silêncio é apenas... O desgracido desliga e não me diz nem bom-dia. Enxugo o suor abundante da testa e de minhas axilas. E, aos poucos, vou voltando ao normal. Saio à varanda e o dia vai se assanhando, mas a escuridão ainda é densa e apenas os pássaros acordando vão se espreguiçando pelas sombras dos galhos. Vou para o cozinha e preparo o café de sempre. Encho minha xícara de meia-tigela, levo uma menor para Dona Zenóbia e, felizes, sorvemos até a última gota. Súbito, ela me abraça docemente:
- Feliz aniversário, meu amor querido! E longamente me beija. Um beijo que nem em minha fálica juventude eu havia experimentado. Sabem de uma coisa, meus amorosíssimos leitores?, as palavras de amor só deveriam dizer o que dizem duas bocas juntas assim. Mas isso não tem importância.
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