~~
Thadeu e Prado
em
O CORVO [Edgar Allan Poe]
[...]
Dois toques na porta.
Eu, com um copo a mais, tive a nítida impressão:
“um estúpido corvo bate à minha porta.
Só pode ser isso, nada mais.”
“Agüenta as pontas um pouco mais.”
Berrei feito um possesso,
mas sem ignorar O Processo
que me acelerava o coração,
me enervando ainda mais.
Matando medo a grito,
meto a mão na maçaneta
e só a noite testemunha o que fui capaz.
“Deixar o bem ouvido pelo maldito?
Isso nunca, jamais.”
Volta a tomar conta de mim a infeliz,
dor infinita menor que minha cicatriz.
“Este coração é aquela que aqui jaz.”
Tranco a porta. “Era tentação,
nem menos, nem mais.”
Tranquilamente minha alma se incendeia
“Agora já é demais.
Só pode ser alguém que me odeia.”
A resposta vem com o vento:
- A cortina só modula meus sinais.
Escancaro a janela e a casa cai.
“Isso não vai ficar assim.”
Abrindo as asas sobre mim,
com jeito de quem não volta atrás,
o corvo foi longe demais.
Trazendo desaforo para minha casa,
o estorvo fedorento e sem compostura,
pousado sobre o ontem dos jornais,
sem vacilar, na maior cara dura,
abre o bico, se apresenta: “Nunca Mais.”
“Essas coisas só acontecem comigo.”
Resmunguei já muito loquaz.
Só porque exagero na dose
ninguém acredita quando digo
que o corvo disse nunca mais.
O corvo repetiu com tamanha fé,
que desconfiar nunca é demais.
“Depois de tanto amigo sacana,
te expulso também a pontapé?”
E o descarado: “nunca mais.”
Ao ouvir palavras tão certeiras,
recordei os bons tempos de rapaz.
“Eu também já fui assim, ô chupim,
eco de todas as besteiras.”
E ele, na tampa: “nunca mais.”
[...]
“Por que dou asas a tanto azar?”
Indago o meu mal passado a sangrar
Pensando fazer-lhe pena com meus ais.
“Tornarei a vê - la no momento azado?”
E o corvo com muita pena:"nunca mais.”
[...]
~~
Poemas Escolhidos
“E de gargalo em gargalho tiro o Poe dos sentidos” (OSS) *
Curitiba - Dezembro de 1985
*OSS:
“E de gargalo em gargalho tiro o Poe dos sentidos” (OSS) *
Curitiba - Dezembro de 1985
*OSS:
Antonio Thadeu Wojciechowski,
Roberto Prado,
Marcos Prado,
Edílson Del Grossi
em
O CORVO [Edgar Allan Poe]
[...]
Dois toques na porta.
Eu, com um copo a mais, tive a nítida impressão:
“um estúpido corvo bate à minha porta.
Só pode ser isso, nada mais.”
“Agüenta as pontas um pouco mais.”
Berrei feito um possesso,
mas sem ignorar O Processo
que me acelerava o coração,
me enervando ainda mais.
Matando medo a grito,
meto a mão na maçaneta
e só a noite testemunha o que fui capaz.
“Deixar o bem ouvido pelo maldito?
Isso nunca, jamais.”
Volta a tomar conta de mim a infeliz,
dor infinita menor que minha cicatriz.
“Este coração é aquela que aqui jaz.”
Tranco a porta. “Era tentação,
nem menos, nem mais.”
Tranquilamente minha alma se incendeia
“Agora já é demais.
Só pode ser alguém que me odeia.”
A resposta vem com o vento:
- A cortina só modula meus sinais.
Escancaro a janela e a casa cai.
“Isso não vai ficar assim.”
Abrindo as asas sobre mim,
com jeito de quem não volta atrás,
o corvo foi longe demais.
Trazendo desaforo para minha casa,
o estorvo fedorento e sem compostura,
pousado sobre o ontem dos jornais,
sem vacilar, na maior cara dura,
abre o bico, se apresenta: “Nunca Mais.”
“Essas coisas só acontecem comigo.”
Resmunguei já muito loquaz.
Só porque exagero na dose
ninguém acredita quando digo
que o corvo disse nunca mais.
O corvo repetiu com tamanha fé,
que desconfiar nunca é demais.
“Depois de tanto amigo sacana,
te expulso também a pontapé?”
E o descarado: “nunca mais.”
Ao ouvir palavras tão certeiras,
recordei os bons tempos de rapaz.
“Eu também já fui assim, ô chupim,
eco de todas as besteiras.”
E ele, na tampa: “nunca mais.”
[...]
“Por que dou asas a tanto azar?”
Indago o meu mal passado a sangrar
Pensando fazer-lhe pena com meus ais.
“Tornarei a vê - la no momento azado?”
E o corvo com muita pena:"nunca mais.”
[...]
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