O MONGE
Parou de beber, de fumar, de jogar e de trepar.
Foi para o mosteiro estudar canto gregoriano e planejava nunca mais sair de lá. Tudo por causa daquela ingrata, aquela vagabunda... “olha a linguagem irmão”.
O tempo passou lentamente, 2, 5, 10, 11...29 dias e ele fugiu pra buscar um caixote de livros velhos que havia deixado na garagem de sua antiga casa.
Foi andando, pensamentos elevados, canto, reza, Deus, sua nova vida longe das tentações mundanas, longe daquela mulher vulgar, aquela vagabunda, aquela vaca...”olha a linguagem irmão”. Autocontrole absoluto.
Seu instinto de preservação entrou em estado de alerta quando passou em frente ao velho boteco da conta ainda aberta, onde bebia com a rapaziada, onde o samba rolava até de madrugada, onde conheceu aquela vadia traidora... “oooolha!”.
No balcão a materializada tentação: Bira e Neco, os mais queridos amigos de balacobaco. Não, não poderia ceder às tentações mundanas, estava decidido. Mas aí era demais, pô, o maior tempão longe do mundo real, só umazinha, Deus nem ia ficar sabendo. Botava o assunto em dia com os amigos velhos, só umazinha e uma lisa, pra ajudar a empurrar a bera, opa, acabou a lisa e não acabou a bera. Tá bom, só mais uma lisinha, “põe na conta, Demerval, Deus lhe pague”.
Saiu de si, acordou tarde de manhã e demorou pra perceber que estava na casa da diaba, da maldita putana. Demorou mais ainda pra entender como a faca de pão foi parar na sua mão. Sua camisa encharcada de sangue. Na sala o corpo retalhado.
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Por Nelson Emerson
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