quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

POR RUBENS K.

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A ponta da faca quebrou onde o osso do ombro se encaixa com o resto do braço. Deu pra ver daqui. Isso, fora as outras facadas, deve ter doído. Três horas da tarde. A rua é um lugar perigoso a qualquer hora. O mendigo ainda dorme enquanto o sangue escorre bem perto dos pés sujos. Muito próximo. Eu acendi outro cigarro. Preciso parar de novo de fumar. Faz mal mesmo. Não tenho a mínima vontade de descer até a rua pra ajudar. Depois tem a porra da polícia, que acha que sempre tem alguém devendo alguma coisa. Eu to devendo um pau no rabo desses filhas da puta. Vou até a geladeira pegar uma cerveja. Tem bastante sangue agora. O cara já deve ter se fodido. Eu poderia ter chamado uma ambulância, mas ninguém ia levar a sério. E depois, se levassem, ia demorar pra caralho pra chegar. O cara tá morto com certeza. Ninguém consegue ficar vivo sangrando desse jeito por tanto tempo. Quantos litros de sangue têm o corpo? Quatro? Cinco? Já era. Fiz um sanduíche e voltei pra janela. Agora tem um grupinho de pessoas em volta do cadáver. Algum viado chamou a polícia também. O circo tá montado. Daqui a pouco os urubus da reportagem aparecem sobre a carniça. Uma merda isso. Uma confusão começou e o que eu previa aconteceu. Prenderam o mendigo. É sempre assim. A polícia é muito esperta.
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