sábado, 20 de outubro de 2007
BENETT, DEEDIEDRICH & SOLDA
FERNANDO BUKOWSKI / CHARLES KOPROSKI
Charles Bukowski
tradução: Fernando Koproski
um bom poema é como uma cerveja gelada
quando você esta a fim,
um bom poema é como um misto
quente quando você está
faminto,
um bom poema é uma arma quando
a multidão te cerca,
um bom poema é algo que
te permite atravessar as ruas da
morte,
um bom poema pode fazer a morte derreter como
manteiga quente,
um bom poema pode emoldurar a agonia e
pendurá-la na parede,
um bom poema permite teus pés tocarem
a China,
um bom poema pode fazer uma mente despedaçada
voar,
um bom poema te permite cumprimentar
Mozart,
um bom poema te permite jogar dados
com o diabo
e ganhar,
um bom poema pode fazer quase qualquer coisa,
e o mais importante,
um bom poema sabe quando
terminar.
poema do livro Essa loucura roubada que não desejo a ninguém a não ser a mim mesmo amém (7 Letras, 2005)
sexta-feira, 19 de outubro de 2007
NEM
É a minha vidinha torta
Nem abre
Nem tranca
Nem porta
É o meu caminhar perdido
Nem frente
Nem ré
Nem ido
É a minha ambição parada
Nem quero
Nem erro
Nem nada
...E apenas em sonhos a vejo
Nem longe
Nem perto
Nem beijo
(variação para o quinto verso)
...E apenas em sonhos a vejo
Nem tetas
Nem xota
Nem beijo
DeeDiedrich
EMÍLIO DE MENEZES
MESMICE
Quisera eu pôr nestes quatorze versos
Um leve, fino, alegre comentário
A algum novo e notável caso diário,
Entre os casos urbanos mais diversos.
Percorro dos jornais o noticiário,
Leio artigos e tópicos dispersos,
A pedidos satânicos, perversos,
Desastres, crimes, contos do vigário.
Nada encontro que inspire à alegre musa
Uma nota satírica e atrevida
Que nos nervos um frêmito produz.
É sempre a mesma coisa repetida:
Luza o sol, venha a noite, o sol reluza,
Como, o banal, se reproduz a vida!
O BOCA DO INFERNO!
Queixa-se o poeta em que o mundo vai errado,
e querendo emendá-lo o tem por empresa dificultosa.
Carregado de mim ando no mundo,
E o grande peso embarga-me as passadas,
Que como ando por vias desusadas,
Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo.
O remédio será seguir o imundo
Caminho, onde dos mais vejo as pisadas,
Que as bestas andam juntas mais ousadas,
Do que anda só o engenho mais profundo.
Não é fácil viver entre os insanos,
Erra, quem presumir que sabe tudo,
Se o atalho não soube dos seus danos.
O prudente varão há de ser mudo,
Que é melhor neste mundo, mar de enganos,
Ser louco cos demais, que só, sisudo.
Gregório de Mattos
quinta-feira, 18 de outubro de 2007
Fernando Koproski é poeta, nasceu em Curitiba em 1973. Tem composições em parceria com a banda curitibana Beijo AA Força. Como tradutor, selecionou, organizou e traduziu Essa loucura roubada que não desejo a ninguém a não ser eu mesmo amém (Sette Letras, 2005), antologia de poemas de Charles Bukowski.
Publicou os livros de poemas: Manual de ver nuvens (1999), O livro de sonhos (1999), Passagens - Antologia de Poetas Contemporâneos do Paraná (Imprensa Oficial do Paraná, 2002), Tudo que não sei sobre o amor (Travessa dos Editores, 2003), Como tornar-se azul em Curitiba (Kafka, 2004) e Pétalas, pálpebras e pressas, (Secretaria de Estado da Cultura/Imprensa Oficial do Paraná, 2004).
CANÇÃO PARA DESPERTAR
A dor me maltrata não consigo te esquecer
Tento, quebro a cara e dou de cara com você
Talvez dar um tempo, tanto tempo pra perder
Perder a razão, perder o gosto de viver
Tantos mil passos eu dei, não consigo encontrar
Sem os teus braços, abraços sufocam meu ar
Acordo assustado e cansado de gritar
Faço em meu violão uma canção pra despertar
Dores e abraços num laço que não quer fechar
Tenho mil sonhos mas não me permito sonhar
A dor me maltrata não consigo te esquecer
(eu nem tentaria)
Tento, quebro a cara e dou de cara com você
(quem não quebraria)
Talvez dar um tempo, tanto tempo pra perder
(eu me perderia)
Perder a razão, perder o gosto de viver
(talvez morreria)