De repente o tal do Luís Américo nos dá o X da questão
“Vou dar bolacha
em quem mexer com a minha nega
já dei colher de chá,
agora chega”.
O povão é louco mesmo. Do brejo das almas salta uma tessitura de ecos e ressonâncias, sambando a la John Donne
“cuidais que são e não são
homens que não vão nem vêm
parece que avante vão
entre doente e o são
mente a cada hora a espia
na meta do meio-dia
andais entre o lobo e o cão”.
Pérolas bóiam na lavagem atirada aos porcos da mídia, puro deleite, entortando a gramática, bagunçando a lógica (ouvide Adoniram), nos apaixonando
“pela dona do 1º andar”.
Mas
“eu já disse a você
que malandro demais
vira bicho”
por isso não confunda com vanguardismo. Já no século XVII, Gregório de Matos misturava coisas de todos os povos que por aqui saqueavam e andavam
“pés de puas com topes de seda
cabelos de cabra com pós de marfim
pés e puas de riso motivo
cabelos e topes motivos de rir”.
Ouça os fonemas oclusivos bilabiais (P – surdo- e B – sonoro), nos linguodentais (T – surdo- e D – sonoro), e no velar C – surdo - formando os pares aliterativos. Quero morrer na cadência bonita do samba. Augusto dos Anjos, poeta singular, em Gemidos da Arte, faz as letras A e R voarem
“Um pássaro, alvo artífice da teia
de um ninho, salta, no árdego trabalho
de árvore em árvore e de galho em galho,
com a rapidez duma semicolcheia.”
Por outro mesmo lado, Cruz e Sousa imporia ritmo forte, frenético e penetrante no soneto Acrobata da Dor
“Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
agita os guizos, e convulsionado
salta, gavroche, salta clown, varado
pelo estertor dessa agonia lenta.”
O mestre negro ensinou nossos brancos a amar Baudelaire e Edgar Poe. Em Noel Rosa, o pulo inverso: um branco ensina nossos negros que
“batuque é um privilégio”.
A doida brasileirice ecoa nas marchinhas, onde o espaçotempo desintegra a realidade
“ô abre alas que eu quero passar”,
“mamãe eu quero mamar”,
“alalaô ô ô, mas que calor ô ô”.
Momo hoje perdeu graça, graças à reciclagem mecânica do que já está na parada. Kojak devia meter bronca nesta moçada, junto com o kung fu, chinês valente, homem pra chuchu. Mas não importa, afinal, carnaval é um bando de dedo pra cima, fantasiado de turista. Samba é de outros carnavais.
O the best do tempestuoso carnaval curitibano não é música, batuque, dança, alegoria e, sim, o glorioso nome de uma escola: Acadêmicos da Sapolândia, no qual as sílabas pulam animadamente. O solitário sambista de Curitiba é tão inédito que nem nós, que somos nós, conhecemos o Lápis. Luiz Carlos Paraná fez nascer Maria quando a folia, mas as mocinhas da cidade pensam que é filha do Roberto Carlos. Fazer o que, se é aqui
“onde moro que me sinto bem”?
Pois somente aqui,
“onde ela mora”, e "a avenida tem fim"
demora essa sonoridade
“eu nunca tive pinta de eunuco
nem de voyeur do teu balacobaco
meu passarinho saiu do teu relógio cuco
você deixou meu coração batendo fraco”.
Pra terminar, uma pergunta: ouvidos novos ouvem ou vêem os sons que vêm e botam ovos?
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