sábado, 27 de dezembro de 2008

Catatau x O Livro dos Contrários - A Luta do Século!!

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Texto originalmente publicado em:


http://www.polacodabarreirinha.blogspot.com/

no dia 15 de dezembro de 2008.

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Senhoras e senhores, no canto direito, com 220 páginas e uma das mais altas concentrações de criativas formas de expressão de nossa língua, com muito bom humor, filosofia, religião, bulas de remédio, manual botânico, o dicionário de rimas, as culturas helênica e oriental além de milhares e milhares de trocadilhos, para os aplausos e o carinho de todos vocês o maravilhoso, o intrigante, o genial: Catatauuuuuuuu!!

No canto oposto, com 20 páginas e 14 dos mais belos e originais poemas em língua portuguesa, o livro das antíteses, dos dribles a la garrincha, das rimas inesperadas, dos versos simples, da rarefação, da maestria, criatividade e beleza. Vamos aplaudir o único, o inigualável, o inimitável: O Livro dos Contráriossss!!
A luta está prevista para 3 rounds de 5 minutos e vale tudo. Limão no olho, um ou outro verso esdrúxulo, tacles no pescoço, aliterações em desuso, chutes no saco, metáforas na lata, queimaduras de cigarro, antíteses no fígado, mordidas na orelha, rimas de pé quebrado, aspas na cara e, inclusive, hipérboles nos bagos.
Senhoras e senhores, sem mais prolegômenos e eufemismos, pau!


Primeiro Round


Os lutadores se cumprimentam no centro do ringue e o que que é isso, meu Deus do Céu? Indescritível. Inenarrável. Indissertável. Meus amigos, o que está acontecendo nesse momento dentro do ringue não tem figura de linguagem que expresse. O Catatau tenta se prevalecer de seu peso, tamanho e volume, um verdadeiro lutador peso pesado de sumô, enquanto o seu adversário faz exatamente o contrário. É um combate de paciência, de estudo e porradaria franca, da boa mesmo. Ciência pura. O público, perplexo, já sofreu uns 15 enxovalhos, dez insultos, 4 descomposturas, 3 esculachos e uma meia dúzia de iluminações. Mas isso não é nada, lá dentro do tablado a coisa está pegando pra valer. Catatau dá um golpe preciso e contundente utilizando o ritmo forte, mas leva de troco uma rimada no meio da fuça, que foi linda de ver. Imediatamente, Catatau se recupera e contra-ataca com uma expressão latina, tonteando o seu oponente. O Livro dos Contrários não se entrega e com um decassílabo perfeito revida à altura, seu adversário acusa o golpe e chega a perder o latim. Mas não desiste e vai na goela. Que luta, meus amigos! Quando soa o gongo, pondo fim ao primeiro assalto. O público tira as mãos da frente dos olhos, aliviado.


Segundo Round

Soa o gongo. Os dois lutadores se estudam. São dois estilos, duas formas, duas personalidades, complexidade e simplicidade, num combate jamais sonhado pela vã filosofia. Catatau, com o peso da ciência, tenta esmagar seu oponente. É sanguinário, brutal, chocante, parece que O Livro dos Contrários não vai conseguir se defender de tantas referências e citações. É demais para um ser humano. O Catatau bate muito, neste momento, mas também apanha pra valer, fato que o deixa bastante contrariado. O público está dividido, metade não entendeu nada até agora e a outra, muito pelo contrário. Mas a refrega é dantesca, tamanha violência nem em filmes de kung fu chinês. O público vai ao delírio. Adjetivos, dentes, advérbios, sangue, pronomes, cabelos e substantivos se espalham no ringue. O juiz Aurélio neste momento interrompe a luta para retirar os objetos que, direta e indiretamente, estão atrapalhando a porfia. É impressionante, senhoras e senhores, o número de palavrões, expressões chulas, chavões e estrangeirismos que está sendo retirado do tablado. Só para dar uma idéia, tinha até um sujeito oculto no meio do caminho dos garis.
É autorizado o reinício e o pau come solto. Inesperadamente, Catatau troca de assunto e com uma dúvida existencial golpeia, com toda a certeza, o seu contendor. É aberta a contagem, quando soa o gongo, fim do segundo assalto. O público pede água e cervejinha.


Terceiro e último round

Os dois lutadores se cumprimentam mais uma vez no centro do ringue, o combate vai para os finalmentes. Estudam-se. O momento é de planejar o golpe fatal. O Livro dos Contrários toma a iniciativa e, com temas simples, diretos, obriga o seu adversário a se estender no assunto. Ele, com muita lógica, se utiliza de vários argumentos para atingir, sem piedade, na cabeça, o seu algoz. O público enlouquece, a reação de O Livro dos Contrários é fulminante e instantânea. Com uma frase de efeito, ele reequilibra a luta, que fica do jeito que o diabo aplaude. Que combate! Que disposição! Que loucura! As duas obras são geniais, não dá pra não ler. Os golpes são páginas abertas à imaginação, criatividade e inteligência. Os dois estão engalfinhados, tentam tudo, não param nem para respirar. É o esforço supremo dos vitoriosos. Estão exaustos, totalmente exauridos. Mas o público reconhece o talento, a garra e o amor à poesia dos dois lutadores e aplaude, de pé. Que espetáculo magnífico! Temos agora um só coro, pedindo para que o juiz acabe a luta. É demais, meus amigos, o público invade o ringue e os lutadores são levados em triunfo sobre os ombros da galera. Todos riem, se abraçam, é uma confraternização geral, um momento de amor jamais visto. Alguns, em pranto, demonstram toda a sua emoção, que coisa mais linda! E agora, neste instante, entra no ginásio a Escola de Samba Preto no Branco e, ao rufar dos tambores, todos gritam e pulam. Até o juiz perde o juízo. Afinal, é carnaval.


Antonio Thadeu Wojciechowski
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