quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Oito mini-contos ou grandes poemas de Dalton Trevisan (extraídos do livro 234)

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13

Ao ver o pacote de bala azedinha na mão da mulher:
- Assim não há dinheiro que chegue.
E um pontapé na traseira do piá de três aninhos.


33

A santidade do pai é alcançada pela danação do filho.


46

Domingo, de volta do futebol, ele serve-se de uma cachacinha, liga o rádio
- Sabe, paizinho ?
É o menino de seis anos, todo prosa.
- O que, meu filho ?
- Essa a música que a mãe dança com o tio Lilo.


57

Os dois irmãos eram os piores inimigos. Bem me lembro no enterro da velhinha. Eles seguravam a alça do caixão – e não se olhavam. Pálidos, mas de fúria. Nem a cruz das almas comoveu os dois. Se odiavam tanto que a finadinha bulia sem parar entre as flores.


110

Na cama, diz o marido:
- Você é gorda, sim. Mas é limpa.
- ...
- Você é feia, certo? Mas é de graça.


179

- Chorei a última lágrima. Chorei o terceiro olho da cara.


210

Haicai – a ejaculação precoce de uma corruíra nanica.

234

Essa outra me conheceu ? Acho que tem esse lance. Eu ia passando na estrada, ela vinha vindo. Pedi horas pra ela. Comecei a trocar uma idéia e tal. Feliz Natal, eu disse. Aí ela viu a faca: “Tá limpo. Num quero que me mata. Num quero é morrer.” Eu usei ela. Fiquei com ela e tal. Dentro dos conformes. Com uma de menor ? Nadinha a ver. Eu peguei e saí fora. Raiva de ninguém, não. Nesse mundo não tem amigo. Você tem de zoar mesmo. Estou pra tudo. Um fumo aí. Mais um bagulho. E umas. E outras. Aí fico meio doidão. Lá vem uma dona e tal. Trocar uma idéia. Feliz Natal. Tá limpo ?
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