quinta-feira, 2 de abril de 2009

RUBENS K. ESCREVEU!

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Sem ar, sem cigarros

Sexta-feira, 20 Março, 2009

No vácuo não tem fogo. Esqueçam George Lucas. Eu também fiquei chocado. As palavras passam rápido sobre a cabeça, sobre guardanapos, sobre a cerveja. Da até pra esquecer a dor de barriga. Um cenário sempre em ruínas e estudantes de direito, às três da tarde, enchendo a cara. Não pode dar certo. Não deu pra mim, não deu pro Miguel. Pro Miguel, bastam cinquenta centavos. Eu queria uma metralhadora e o Arnold de volta na telona. Mickey Rourke está ótimo. Temos uma cena: uma mulher de preto, com uma coca-cola, daquelas tradicionais mesmo, pendendo da mão, do braço. Salto alto é uma arte pra poucas. Penso em Maga Patalógika. Sempre tive atração pela Maga. Veja bem: bruxa, de preto, meias 7/8 - é isso mesmo? - com roupas sadomasô, atrás de um pato idiota. Eu sou o pato idiota. Tem sempre uma boa idéia pra tirar a alma do marasmo. Tem sempre uma despedida. Tem sempre alguém que não entende nada, alguém começando a vida, a entender um pouco o que resta da sanidade humana. Eu já tive treze anos. O filho do Cássio tem. Ele não fala, então falo eu. Moleque gente boa. Na idade dele eu não ficava quieto, talvez por isso tenha apanhado bastante. Pensando bem, ia apanhar de qualquer maneira. O cenário escurece e fica frio, não pra mim, mas fica frio. Cinza é uma cor fria, ou não é? Não existe reflexo. Não existe paradigma qualquer. O que existe é uma estrada, uma estrada escura e nublada, um caminho. Onde vai dar? Sei lá. Tenta a sorte. Ninguém parece prestar atenção na dama de preto. Bruxa, penso. Ninguém parecer prestar atenção no molho de pimenta encalacrado na bordinha da tampa - isso, uma hora ou outra, vai fazer um mal da porra. Ninguém parece prestar atenção, mas tá tudo ali. Uma passagem pro inferno: cinquenta centavos. Um gole de cachaça: idem. A mulher de preto: não sei exatamente, mais que trinta é. Uma tarde pra jogar fora, dados talvez. Um resgate inesperado, um telefonema perdido… sou fã de ficção científica. Leio muito sobre asteróides e planetas que nem sei se existem mesmo, e nem vou saber. Eu quero mesmo acreditar em alguma coisa que não seja a minha vida, Deus. Eu quero. No vácuo, não existe fogo. Um pouco da esperança que eu tinha era parte deste fogo. Agora sei que ela também não deve, não pode existir.
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