quarta-feira, 30 de abril de 2008

RUBENS K. ESCREVEU:

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Solidão


A camisa vermelha está amassada, mas não tenho ferro pra passar. A solução é esquentar uma panela e colocar um papel em branco entre a camisa e a panela quente. Tentar fazer o melhor possível com o ferro improvisado. É difícil quando se está num desses lugares, onde a gente está começando alguma coisa. O quarto sai por 150 a semana. Ganho pouco mais que isso. Se comer, não sobra muito pra beber. O fato é que estou bem mais magro. A rua está cheia, como sempre. Tem gente caindo dos prédios a toda hora. Uma brigada especial surge do nada pra limpar o estrago. Os camelôs já não gritam de maneira desorganizada. Um espera o outro, como num ritual de acasalamento de certa espécie de pássaros. Vi isso uma vez num canal sobre natureza. Eu vou a pé até onde trabalho. Passo o dia inteiro, das 08:00 até 21:15, também em pé. Separo o que presta do que não presta na loja de usados. As pessoas vão lá em busca de dinheiro rápido. Saem com bem menos do que esperavam e deixam coisas interessantes e úteis. Procurei e achei um ferro de passar roupas. Deixei separado. Esses dias achei um álbum de casamento. Fiquei olhando as fotos daquelas pessoas. Perguntei por que haviam comprado aquilo. Saudade de um tempo que nunca mais vai voltar, foi a reposta, e o álbum foi guardado numa gaveta com chaves. Melhor deixar pra lá.

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2 comentários:

Anônimo disse...

um brinde!

Renato Quege disse...

Valeu, Amigão!!
Abraço,
TheQuege.