segunda-feira, 24 de novembro de 2008

LUIZ FERREIRA ESCREVEU:

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O FILHOTE DE QUERO-QUERO

Manhã de domingo de sol tipicamente curitibana, sujeita a chuvas e trovoadas a qualquer momento. Dia de show de minha banda, a Maxixe Machine no Parque Barigui. A prefeitura alugou um sonzão e montou um belo palco coberto no gramado. Uau! Platéia coberta. Hoje o povão é VIP.

Passagem de som no gatilho. Últimos microfones sendo cabeados quando pergunto pro cara da prefeitura cadê a água? A resposta foi uma expressão facial que queria dizer "se vire".Tive que ir até o bar comprar umas garrafinhas. Apressado, tentei cortar caminho, espantei um quero-quero que se assanhou pro meu lado e passei por um caminho no meio de uma floreira. Foi quando ouvi:
"- Ô, meu senhor, o que é isso? Passando pelo meio da floreira, nem as crianças fazem isso, o que que é isso, meu senhor? Veja só o que o senhor fez, o senhor viu o que o senhor fez? Minha Nossa Senhora, meu Deus do céu..."
Eu fiquei gelado, achei que tinha pisado no túmulo da Maria Bueno, olhei pro chão e vi um minúsculo filhotinho de quero-quero com a marca do meu Nike no pescoço. Muito sinceramente me desculpei e assumi meu erro, mas com as mãos bem abertas na altura do peito do sujeito, deixando claro que o manteria afastado se a sua fúria ultrapassasse o limite do perigo.
"- O senhor não viu que eu estava olhando os bichinhos?" Ele disse.
"- Se estava olhando, por que não me avisou?" repliquei.
"- As pessoas têm que ter consciência..."
Saquei: um ecochato me pegando pra Cristo. Virei as costas e fui andando.


Ao final da primeira música do show, um guarda municipal me aborda com canetinha e papel na mão:
"- Seu nome e RG, por favor."
"- Ah! tá, já vai, eu disse .
Três músicas depois o guarda diz:
"- Me dê aí qualquer nome, só pra eu entregar praquele mala."
Respondi que isso seria falsidade ideológica e que se ele quisesse me indiciar, minha advogada estaria na platéia. Um blefe.


O show foi meio tenso pro meu lado, fiquei em estado de alerta o tempo todo. Matador de passarinho (opa! Essa é do Rogério Skylab). Uma canção do Maxixe tem o verso "...QUASE NÃO EXISTE MAIS RINOCERONTE", emendei automaticamente: "MAS QUERO-QUERO TEM BASTANTE". O show chega ao final com gostinho de quero-quero mais e dezenas de CDs vendidos. Desmonto meu set e vou cumprimentar Dona Ana, a mãe do vocalista que faz um apropriado comentário acerca dos macacões amarelos que adotamos como uniforme de banda:
"- Vocês deveriam mudar o nome da banda para OS EVADIDOS DE CATANDUVAS." Estou me sentindo um tanto culpado hoje.


Curitiba, 24 de novembro de 2008.
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Um comentário:

Carlos Careqa disse...

Hahahahhahahahhha. Esta é uma das vantagens, de morar em Curitiba. Se é que isso pode ser chamdo de vantagem.