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Já não lhe restava muito o que fazer, depois que seus últimos amigos morreram ficou sem ter com quem conversar.
Sua saúde ainda era de ferro. Fora atleta quando jovem. Nunca levou à boca em um copo de bebida, cigarro então, never. Sempre dormiu cedo. Teve 2 mulheres e sobreviveu a elas. Os filhos lhe deram netos e os netos, bisnetos. Tinha dinheiro da aposentadoria de funcionário de alto escalão. A idade não era para ele um fardo. Era lúcido, lépido e auto-suficiente.Já não lhe restava muito o que fazer, depois que seus últimos amigos morreram ficou sem ter com quem conversar.
Um dia conheceu uma mulher, muito mais jovem, loura, esguia, bonita e atraente. Era empregada doméstica na vizinhança e ele a esperava passar diariamente sentado no banco da esquina da pracinha do bairro. Um dia a chamou para uma conversa e sua vida foi novamente iluminada por um sopro de luz, o frescor dos peitinhos em flor daquela moça faziam seu próprio peito saltar como se invadido por borboletas na primavera. Estava apaixonado aos 89 e parecia correspondido.
O tempo passou e ele a cada dia se mostrava mais cheio de energia. Estava chegando a hora de se declarar àquela que seria sua terceira mulher. Palpitava seu coração e uma comichão o dominava “do pé ao pinto”. Sentia-se verdadeiramente capaz de satisfazer a rainha de seus desejos mais sinceros.
Naquela tarde ela apareceu de mãos dadas com um rapagão, porte de atleta, camisa colorida, aberta até o segundo botão, deixando mostrar o peitoral avantajado, rosto bronzeado, aquele bronze que só se adquire passando muitas horas na sombra. Na verdade o sujeito tinha pinta de gigolô. Ao vê-lo sentado no banquinho de sempre ela o mostra ao seu acompanhante: “olha amor, esse é o velhinho que te falei. Não é uma gracinha? Converso com ele todos os dias, ele é o meu vovozinho cuticuti. Ó vozinho, este aqui é meu noivo – ela fala mais alto, como se quisesse dizer que o velho é surdo - veio me buscar hoje porque vamos comprar nossa casinha pra casar. A entrada eu economizei nesses anos todos e o resto é com o morenão aqui, né pretinho?” beijinho estalado de boca entreaberta. Quase deu pra ouvir um coração partindo.
No dia seguinte ela chorando bate na porta da casa do velho. O ex-noivo a havia roubado e ela não tinha mais pra onde ir. Sozinha no mundo o pai morto e a mãe internada senil em um sanatório. Como iria se casar, tinha pedido a conta da casa da madame. “Fica” disse o velho, “mas vais lavar, passar e cozinhar e à noite esquentarás minha cama, não esperes nada daqui, serás pouco mais que uma escrava. Mas poderás ir embora quando quiseres, mulher estúpida.”
Ela ficou. Três anos depois o velho morreu atropelado. Ela pensou em se matar, sem saber que existia um testamento onde ela era a maior beneficiada. Um advogado a procurou alguns dias depois. Herdara a casa e um bom dinheiro, poderia abrir um negócio ou viver de renda.
Hoje, octagenária, ainda mora na mesma casa. Com sua fortuna ajuda os pobres. Gosta de sentar no mesmo banco onde conhecera o velho. Seu mentor, seu senhor, o único verdadeiro amor da sua vida.
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Por: Nelson Emerson
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