terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

RUBENS K. ESCREVEU!

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O LUGAR IDEAL


Um mina de carvão no centro-norte do país. Meu nariz nunca funcionou direito, sempre entupido, mas o dinheiro era bom, então vamos lá. Na primeira semana, quatro caras ficaram entre os escombros de um desmoronamento. Na segunda semana, um morreu numa explosão. Fora isso tem a escuridão. Não sou claustrofóbico, pelo menos não era ou não sabia. Teve um dia que a minha lanterna apagou. Era um túnel novo que estávamos escavando. Joe estava bem atrás de mim, uns cem, cento e vinte metros. Eu estava operando a furadeira para colocar explosivos. Primeiro veio um silêncio devastador, depois comecei a ouvir os pingos d’água, vindos do teto até as poças no chão. Então procurei a parede às minhas costas, com as mãos, e me sentei bem junto a ela. Tirei a lanterna do capacete e tentei fazer ela voltar a funcionar. Não consegui. Alguma coisa tinha emperrado e ela não ligava de maneira nenhuma. Eu tinha checado a bateria antes de entrar na mina. Uma bateria dessas dura mais de seis horas fácil. Eu estava há duas dentro do túnel. Todos que trabalham em minas tem um rádio, pra caso de emergência. Joe respondeu que estava a caminho. Nesse meio tempo, um barulho ensurdecedor e uma montanha de carvão caiu em cima de mim. Não sabia exatamente onde estava e a dimensão do que tinha acontecido. Provavelmente algum idiota detonou uma carga mais forte que a necessária, num túnel próximo. Isso sempre acontecia. Tem caras que vieram de minas de ouro e bauxita. Eles ainda acham que estão nelas e colocam explosivos além do necessário. Perdi o rádio na confusão. Não enxergava nada em qualquer direção que olhava e o pó negro do carvão ia fazendo seu trabalho, lentamente, dentro dos meus pulmões. De um ponto para frente, não me lembro de mais nada. Perdi a consciência. Quando acordei, estava todo sujo e com uma dificuldade danada pra respirar. Depois, isso passou e pude ver que estava em uma praia, um lugar muito bonito, com água azul e pequenas ilhas espalhadas ao redor. Uma sensação agradável tomou conta de mim e o calor e a luz do sol eram gratificantes depois de toda aquela escuridão. Tirei as roupas imundas e comecei a me lavar na água quente daquele mar azul. Depois de limpo, deitei nu na areia e decidi que este era o lugar que sempre quis estar, que sempre imaginei conhecer. Decidi que ia ficar aqui. Nunca mais voltei para as minas.
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